Uma recente pesquisa chama a atenção para um problema crescente nos oceanos: a pesca intensiva pode estar levando peixes a perderem suas rotas migratórias por causa do enfraquecimento da estrutura social dos cardumes. Manter essa organização social, portanto, é uma das principais recomendações dos cientistas envolvidos no estudo.
Publicado na revista científica Fish and Fisheries, o trabalho foi desenvolvido pela Escola de Ciências Marinhas da Universidade do Maine, nos Estados Unidos, com colaboração de pesquisadores da Noruega e da Austrália. O estudo destaca o papel crucial da transmissão de conhecimento entre os membros dos cardumes — algo especialmente relevante em espécies que vivem por mais tempo.
Efeitos da pescaria
De acordo com a pesquisa, quando os peixes mais velhos são retirados dos cardumes pela pesca, ocorre a interrupção do processo conhecido como “transmissão vertical de conhecimento”. Trata-se de um aprendizado social, não genético, que acontece ao longo da vida dos animais e permite que os mais jovens adquiram informações cruciais sobre rotas migratórias e locais de desova.
Por ser um processo contínuo e dependente da convivência entre gerações, torna-se altamente sensível à intervenção humana. Embora o estudo não delimite áreas geográficas específicas como as mais prejudicadas, os autores indicam que regiões costeiras e próximas ao litoral tendem a ser mais vulneráveis.
A perda desse conhecimento coletivo pode desorganizar os padrões migratórios, dificultar os ciclos reprodutivos e gerar consequências graves para as populações locais de peixes — incluindo declínios populacionais acentuados e, em alguns casos, até extinções regionais.
Como proteger o funcionamento do oceano?
O estudo traz uma nova perspectiva para a discussão sobre pesca sustentável, enfatizando que não é suficiente apenas limitar o volume de capturas. É igualmente importante reconhecer a função ecológica e social que cada peixe desempenha no coletivo. A manutenção do conhecimento tradicional das espécies marinhas pode ser decisiva para sua sobrevivência a longo prazo.
Para isso, os pesquisadores recomendam manter a diversidade etária nos cardumes, proteger áreas e períodos específicos de pesca, fortalecer a governança local e adotar tecnologias mais seletivas. A transmissão de conhecimento entre gerações pode ser vital para a sobrevivência das espécies.
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